segunda-feira, 9 de março de 2015

MULHER E CIÊNCIA

         
Por: Prof. Dr. Sofiane Labidi
    Celebramos hoje, 8 de março, o centésimo quarto aniversário do dia internacional da mulher.  Este dia foi comemorado pela primeira vez em 1911 tendo como origem as manifestações realizadas no início do século XX pelas mulheres russas por “Pão e Paz”, e por homens e mulheres esclarecidos na Europa e nos Estados Unidos que reclamavam a igualdade dos direitos, melhores condições de trabalho, e o direito do voto para as mulheres. 
                O Dia homenageia de fato 129 mulheres queimadas vivas, em uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, em 8 de março de 1857, por reivindicarem um salário justo e a redução da jornada de trabalho.
                O dia internacional da mulher foi oficializado pela ONU em 1977.  A ONU definiu também que a “igualdade de gêneros e a valorização da mulher” seja um dos oito objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM) estabelecidos por ela em 2001.
               De lá pra cá, muito se conquistou.  A mulher de hoje é emancipada; ela ocupa cargos importantes que até então eram restritos aos homens.  A mulher é empresária, médica, pilota, engenheira, política, administradora, e recentemente o Brasil obteve sua primeira presidenta.
           Apesar desses avanços, a luta pela igualdade de géneros ainda não chegou ao fim.  É certo que a mulher obteve muitas conquistas; contudo, até hoje nenhum país no mundo atingiu a igualdade de gêneros.
Seguindo o Relatório Global de Desigualdade de Gênero 2013 do Fórum Econômico Mundial, que analisou 136 países, nem a Islândia atingiu esta meta.  A Nova Zelândia é o primeiro país do mundo a conceder o direito do voto às mulheres, já em 1893, e ocupa hoje a 7ª colocação no ranking de igualdade de gêneros com um índice de igualdade de 78,1%.  Este ranking é liderado pelos países nórdicos, na sequência: Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia, Irlanda, Dinamarca, e Suíça.  Esses países têm uma longa tradição na valorização e investimento no talento individual.  A única surpresa do ranking são as Filipinas que aparecem no 5o lugar.
          O relatório mostra o Brasil na 62ª posição com um índice de 66,5%.  O índice avalia quatro fatores-chave que medem a igualdade de gênero na sociedade: saúde, acesso à educação, participação política, e igualdade econômica.  O Brasil está muito bem nos quesitos de igualdade no acesso à educação, saúde, e expectativa de vida.  Porém, precisa melhorar muito para assegurar o reconhecimento da mulher no mercado de trabalho e na vida pública.  De fato, por um mesmo trabalho, a mulher brasileira recebe apenas 54% do que é pago aos homens, e a renda média das mulheres é estimada em apenas 61% da renda média dos homens.  Mas, no quadro dos altos funcionários e na administração de empresas a participação feminina é um destaque.  Quanto ao voto, o Brasil celebra o dia da conquista do voto feminino em 24 de fevereiro, um direito adquirido em 1932.
      Hoje, cerca de 50% das mulheres em todo o mundo possuem empregos remunerados – um aumento de 40% em 20 anos. No entanto, essa proporção não se reflete na equidade salarial, com as mulheres ganhando em média 77% a menos do que os homens.  A ONU enfatiza a necessidade de estabelecer 2030 como a data limite para a disparidade de gênero.  A ONU se prepara para o 20º aniversário de adoção da Declaração e da Plataforma de Ação de Pequim – Pequim+20 -, o “projeto internacional” para a igualdade de gênero e empoderamento das mulheres.
      Se no quesito acesso à educação, a participação feminina melhorou muito, igualando e até ultrapassando a participação masculina em alguns países; a participação da mulher na ciência e tecnologia continua sofrendo dificuldades.
No entanto, a história de mulher na ciência é muito antiga.  Já no século I, Maria la Hebrea, uma química da Alexandria, deu uma grande contribuição às ciências biológicas ao inventar o famoso Banho Maria.  No século IV, uma mulher grega chamada Hipatia que vivia em Alexandria desenvolveu trabalhos interessantes nas áreas de matemática, astronomia, e filosofia ao ponto de influenciar o pensamento filosófico do século XVIII.  Na egípcia antiga, a Ísis inventou o processo de embalsamamento (cujo método continua sendo um mistério até hoje) e ensinou aos egípcios a agricultura, a navegação, e a astronomia.
        Para analisar a contribuição das mulheres nas diferentes áreas do conhecimento, tentei observar sua participação no Prêmio Nobel.  O destaque é de Marie Sklodowska-Curie, considerada a maior mulher cientista de todos os tempos.  Polonesa de origem, ela fez sua carreira científica na França e foi vencedora do Prêmio Nobel em duas oportunidades, de Física em 1903 e de Química em 1911.  Ela foi pioneira nos estudos sobre radioatividade e teve também sua filha Irene Joliot-Curie vencedora do Prêmio Nobel de Química em 1935.  Em homenagem ao seu trabalho, realizado em parceria com seu marido Pierre Curie, uma das mais famosas e brilhantes universidades parisienses leva seu nome até hoje: a Universidade Pierre et Marie Curie (UPMC, Paris 6).
Contudo, em mais de 100 anos de Nobel que foi criado em 1901, apenas 40 mulheres foram agraciadas com o prêmio, ou seja, menos de 10% do total dos premiados até hoje.  Nas ciências exatas, apenas duas mulheres ganharam o prêmio de Física (Marie Sklodowska-Curie e Maria Goeppert Mayer) e três mulheres ganharem o prêmio de Química (Marie Curie, Irene Joliot-Curie, e Dorothy Mary Crowfoot Hodgkin).  Não existe um Prêmio Nobel de Matemática, mas a participação feminina nesta área sofre os mesmos problemas.
          Historicamente, a ciência sempre foi vista como uma atividade masculina.  Áreas como a matemática, física e química, por exemplo, erram restritas aos homens.  Havia um preconceito que a mulher não tinha o QI suficiente para enfrentar tais áreas.  Isto reflete a pequena participação feminina nas comunidades destas áreas.  Basta observar o envolvimento das mulheres nesses cursos, nas equipes de pesquisa e nos congressos do ramo.  Durante muitos anos eles costumavam reunir centenas de homens e menos de uma dúzia de mulheres em média.
         Ao analisar algumas diferenças, cientificamente comprovadas, entre os dois sexos, observa-se que o cérebro do homem é geralmente 15% maior e 10% mais pesado, porém o da mulher tem mais conexões entre os neurônios e os dois hemisférios se comunicam mais efetivamente.  Os homens enxergam melhor a distancia e têm melhor inteligência espacial.  As mulheres têm uma melhor visão periférica além de melhor audição e olfato.  As mulheres têm também uma memória mais eficiente e um poder de processamento paralelo interessante.  Os homens são mais corajosos e mais competitivos, enquanto as mulheres têm mais capacidades de socialização.  As mulheres têm uma maior expectativa de vida; no Brasil a expectativa de vida é de 70,6 anos para os homens e 77,7 anos para as mulheres.  Os homens sofrem bastante com os infartos enquanto as mulheres têm mais problemas de depressão e osteoporose.
      É notório observar que a participação feminina nas atividades científicas vem crescendo a cada dia, principalmente após a segunda guerra mundial.  Nas universidades, os cursos tradicionalmente ocupados por homens como as engenharias e matemática, começam a ter uma massa crítica de mulheres muito importante.
      Assim, o auge da participação feminina no prêmio Nobel aconteceu em 2009, quando cinco mulheres se destacaram entre os treze vencedores.  É preciso, portanto, aumentar a participação feminina no meio científico e incentivá-la em suas atividades.
No Brasil, a maioria dos estados já tem uma secretaria para mulher onde se tenta implementar políticas públicas para emancipação da mulher.  Porém poucas focam o incentivo da mulher para a prática da ciência.  Em nível federal, foi criado em 2005 o Programa “Mulher e Ciência” pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, o Ministério da Ciência e Tecnologia, e o Ministério da Educação.  Em nível mundial, existe, por exemplo, o Prêmio L’Oréal-Unesco “Mulheres na Ciência” que, no Brasil, é realizado em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
         Podemos afirmar que a mulher teve um papel importante na Ciência.  Apesar de timidamente, ela contribuiu para o avanço científico desde as civilizações antigas, mas elas não foram devidamente reconhecidas.
Realmente, precisamos valorizar muito mais este tipo de datas importantes, comemorá-los intensamente com grandes atividades e manifestações, e não os encarando-os como mais um feriado.

     Que Deus abençoe a todas as mulheres; Que a Ciência seja um elemento de transformação e de prosperidade para toda humanidade; e Que a Mulher continua dando sua contribuição para a sociedade.  Parabéns Mulher pelo seu dia, pela tua luta, e pelas conquistas.  Seja sempre Feliz!

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