Por: Prof. Dr. Sofiane Labidi
No início do
século 20, apenas 10% da população mundial era urbana. Atualmente, metade da população vive em cidade;
e estima-se que, em 2050, esta proporção chegará a 75%. Assim, se o século 19 era considerado o século
dos impérios e o século 20 o século das nações, o século 21 está sendo
considerado o século das cidades.
A importância
das cidades cresce ainda mais quando observamos que é na cidade que acontece a
nossa vida, o nosso dia-a-dia. É na
cidade que são feitas as grandes interações, sociais, econômicas, culturais, etc.
Mas também, é o lugar onde há um
crescimento das favelas, da poluição, do desemprego, do congestionamento no
transito, da violência, etc. Estudos mostraram
que, a partir de um milhão de habitantes, as cidades tornam-se palco de grandes
problemas difíceis de serem contornados.
Além disso, o
crescimento das cidades fez emergir as chamadas de megacidades. São as cidades, ou metrópoles, com mais de 10
milhões de habitantes. As megacidades concentram
hoje cerca de 10% da população mundial e elas não parem de crescer
principalmente nos países em desenvolvimento.
Assim, a cidade
contemporânea traz consigo novos desafios, oportunidades, e necessidades do
desenvolvimento sustentável e da gestão inteligente. A pergunta é:
como será a cidade do futuro? Qual
é o modelo de cidade que desejamos? O
certo é que devemos optar por uma cidade sustentável, i.e. uma cidade
inteligente, inovadora, criativa e que deve ser focada, planejada, e feita para
as pessoas.
Contudo, o
que observamos hoje é uma cidade que está se adaptando, por exemplo, aos carros
(desenhados por engenheiros pouco preocupados com a sustentabilidade e o meio
ambiente), enquanto o certo é que são os carros que devem se adaptar às
cidades.
Assim, a
cidade do futuro deve ser uma cidade que busca a sustentabilidade baseando-se
em três conceitos fundamentais:
inteligência, inovação e criatividade.
Isto leva ao conceito de cidade ubíqua.
Um ambiente ubíquo é aquele no qual as tecnologias de informação são
aplicadas de forma intensiva e todos os sistemas estão interligados. Tal ambiente deve ter as características de
conveniência, segurança, e simplicidade, para qualquer usuário, a qualquer hora
e em qualquer lugar.
A cidade
inteligente é definida, portanto, como um território que traz sistemas
inovativos e TICs dentro da mesma localidade.
São territórios caracterizados pela alta capacidade de aprendizagem e
inovação, que já é embutida na criatividade de sua população, suas instituições
de geração de conhecimento, e sua infraestrutura digital para comunicação e
gestão do conhecimento. Isto leva
certamente à necessidade e à ambição de repensarmos nosso modo de viver.
Como exemplo
disto, algumas cidades estão implantando o projeto “malhação social” onde, em
uma academia de ginástica, os movimentos dos exercícios são transformados em
energia que carrega as baterias de toda academia. Os “pulos” e toda energia dissipada por uma
torcida durante uma partida de futebol, podem ser transformados em energia
elétrica suficiente para iluminação do estádio, etc. Um outro exemplo, são os programas de
eficiência energética, onde lâmpadas, ar condicionados, etc. são desligados
automaticamente cada vez que a sala está vazia usando sensores adequados.
A cidade do Rio
de Janeiro, por exemplo, está implantando o programa “Rio Inteligente”, que é
baseado no uso das TICs para realização de grandes avanços em cinco áreas estratégicas: educação, saúde,
governo eletrônico, segurança pública, e defesa do meio ambiente. Em Portugal, a IBM implantou o Centro de
Estudos Avançados (CAS), um polo de pesquisa científica que pretende unir a empresa
com o mundo acadêmico, o mundo empresarial e o Governo no objetivo da inovação. Assim, o CAS pretende criar uma cidade
inteligente, em áreas como transporte e mobilidade, saúde, governança eletrônica
e educação. O objetivo é gerar
conhecimento que crie serviços com impacto na vida das pessoas.
Entretanto, o
exemplo mais fascinante de cidade digital é New Songdo em construção na Coréia
do Sul, a 65 quilômetros da capital Seul, que conta com um investimento de US$
25 bilhões, e que deve ser inaugurada no final deste ano. Songdo é um polo econômico, sustentável,
tecnológico, confortável e totalmente planejado para atrair a comunidade mais
dinâmica, vibrante e digitalizada do planeta.
O planejamento da cidade é liderado pelo John Kim, ex-projetista-chefe
do Yahoo. Além de ser uma cidade
totalmente high-tech, Songdo pretende
ser a cidade mais verde do planeta.
Nela, casas, supermercados,
empresas, etc. compartilham dados. Os
computadores e chips são presentes em residências, ruas e escritórios. Cada apartamento é equipado por cerca de 2.500
chips.
Por exemplo, as
geladeiras, conectadas à Internet, fazem compra on-line cada vez que algo está
ficando em falta (leite, ovo, manteiga, etc.).
Para escolher a roupa adequada, as mulheres interagem com o espelho do
guarda-roupa que mostra as opções disponíveis, provam virtualmente as
diferentes combinações e recebem até sugestões de moda, etc. O chão é equipado por sensores de pressão que
acionam a ajuda automaticamente no caso de uma queda de uma pessoa, etc. Sensores e chips levantam e analisam
informações sobre a qualidade da água, ar, lixo, e até da urina da pessoa. e
avisam sobre as condições sanitárias do ambiente, etc. No transito, os semáforos são inteligentes e
atuam de forma a facilitar o transito e evitar congestionamentos. Os motoristas visualizem on-line, as
condições do transito. As áreas de estacionamento
são monitoradas e os motoristas são informados sobre a quantidade e a
localização das vagas.
Inicialmente,
New Songdo terá 65 mil habitantes quando será inaugurada. Muitos candidatos já estão na fila. O primeiro bloco com 2.600 apartamentos foi
colocado à venda em 2006 e a procura foi de oito pessoas para cada apartamento. As transações podem ser feitas por meio do
portal www.songdo.com.
Assim, Songdo,
é um exemplo perfeito de tentativa para colocar em prática o conceito de Ubiquitous City
(U-City). O U-City, ou cidade digital,
ou do futuro, é um conceito que está agradando a priori. Porém, é preciso ter muitos cuidados com a privacidade
das pessoas inerentes do uso de chips que carregam informações e dados
pessoais. Até que ponto o monitoramento
de nossas atividades é útil e pode ser tolerado?
Apesar dessas
preocupações, o conceito de Cidade Ubíqua é muito interessante e reflete muito
bem a tendência em matéria de modelos de cidades. Portanto, vale a pena investir na cidade do
futuro no maranhão e no Brasil, pelo menos em alguns bairros modelos levando à
sustentabilidade e a uma boa qualidade de vida.
São Luís devia ter entrado neste projeto.
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