Por: Prof. Dr. Sofiane Labidi
Para a maioria, a universidade é
fundamentalmente um espaço para transmissão do conhecimento no intuito de
formar recursos humanos. Isto fez com
que, durante muitos anos, o Ensino era considerado a função preponderante da universidade.
A Pesquisa e a Extensão foram
incorporadas gradativamente e fazem parte da história recente da universidade
brasileira. Atualmente, a visão
predominante é que a universidade é uma entidade desenvolvedora do tripé ENSINO
– PESQUISA – EXTENSÃO.
Entretanto, creio que esta visão
clássica de hoje deixa de ter sentido a partir do momento em que nós não
sabemos para quê serve este Ensino? Para
quê serve o conhecimento gerado? e qual
será o papel dos milhares de profissionais que colocamos no mercado a cada ano?
O distanciamento observado entre a
universidade e seu entorno: sociedade, meio empresarial, meio industrial e meio
governamental está colocando em xeque este modelo e o papel da universidade na
sociedade. Esta visão está se tornando
caduca, principalmente porque tanto o ensino, como a pesquisa e a extensão não
estão amplamente voltados para sociedade.
Ao analisarmos o contexto e o cenário
maranhense, deparamos em uma realidade alarmante, pois, apesar de ser um estado
potencialmente rico, com uma abundância de recursos naturais e uma localização
estratégica invejável, o Maranhão apresenta os piores indicadores sociais e
econômicos da federação. É inadmissível
que, em pleno século XXI, mais de 20% da polução maranhense ainda é analfabeta. Além disso, o Maranhão detém os piores
índices de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, baixo Índice de
Desenvolvimento Humano –IDH, baixa produtividade, baixo Produto Interno Bruto
-PIB, Baixos índices educacionais, alto índice de pobreza, alto índice de
violência, alto índice de desemprego, etc.
Diante deste cenário perverso, e como
professor e pesquisador da Universidade Federal do Maranhão -UFMA, me pergunto:
qual é a nossa parcela de responsabilidade nisso? Qual deva ser o grau de nossa preocupação com
este cenário? O que estamos realmente
fazendo para reverter este quadro tão perverso?
Enfim, qual é, de fato, o papel da academia na sociedade?
Estamos em
pleno século XXI, vivemos na nova era da globalização, da tecnologia, do
conhecimento, da competitividade, da inovação, e da mudança. Neste contexto, qual é o papel da
academia na sociedade?
Nossas universidades detêm a maior
concentração de inteligências no estado com seus mestres e doutores. Infelizmente, apesar deste potencial
extraordinário, nossa academia pouco faz para reverter este quadro. Ao olharmos ao redor das nossas três grandes
universidades: UFMA, IFMA e UEMA, o que observamos é muita pobreza! E o pior, estamos bem acomodados no nosso
ninho. A universidade brasileira em
geral está desconectada da realidade e pouco impacta a sociedade.
Nós não podemos negar a importância
da universidade como uma instituição de papel fundamental na formação dos
acadêmicos lhes proporcionando um importante crescimento profissional e pessoal. Porém, este papel não é determinante, pois
qualquer instituição acadêmica de qualquer escala e em qualquer bairro da
cidade pode cumprir este papel. A UFMA, UEMA
e IFMA, pelo potencial que têm, não podem se limitar a esta função. Acredito que nossa querida universidade tem
uma responsabilidade social bem maior e deva de fato impactar a sociedade. Formar é a função básica da nossa
universidade, que deve ser fortalecida e desempenhada com qualidade e
excelência. Entretanto, nós não podemos
se limitar a esta função.
Nossa academia tem um débito muito
grande perante a sociedade. Precisamos
nos reconciliar com os trabalhadores, o homem do campo, os movimentos sociais, o
setor produtivo, o empresariado, as comunidades carentes, e as diferentes
classes sociais. Estes segmentos reúnem
as condições para quebrar o ciclo perverso do atraso e retomar as bases do
verdadeiro desenvolvimento que deve ser baseado no conhecimento.
Acredito muito no nosso potencial,
que hoje se encontra subestimado e sub explorado, e na nossa força em
contribuir efetivamente com nosso estado, um estado tão carente e tão
necessitado da contribuição de suas inteligências. A universidade brasileira em geral, não está
cumprindo o papel que deveria ser o seu.
Ensinar, formar é o mínimo que nossa instituição possa oferecer. Precisamos ser mais corajosos, mais
audaciosos, mais atuantes e mais envolvidos no dia-a-dia da nossa sociedade. Precisamos caminhar para uma universidade
moderna, aberta, inovadora e transformadora da sociedade onde ela está
inserida.
A universidade, que é uma das células
mais importantes da sociedade, encontra-se em um momento crucial de sua
existência. A instituição acadêmica está
enfrentando os desafios do século, além disso, sua responsabilidade perante a
sociedade está aumentando a cada dia. Porém,
sua estrutura arcaica e engessada e sua inercia estão travando seu avanço e
colocando em xeque seu papel na sociedade.
A inovação é o motor da evolução da sociedade e a educação é
seu fundamento. A inovação passa, em
primeiro lugar, pela geração de conhecimento que a universidade sabe fazer muito
bem e em segundo lugar pela transformação do conhecimento gerado em
riqueza. Isto passa pela interação com a
sociedade e com a empresa. É
principalmente neste segundo aspecto que estamos pecando.
Precisamos se aproximar da indústria e da micro e pequena
empresa. Precisamos criar as condições
para explosão do potencial da academia ruma a uma universidade moderna,
inovadora, aberta, e transformadora da sociedade. A universidade maranhense precisa se
modernizar e se preparar para enfrentar os novos desafios da era da mudança e
do conhecimento.
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