Por: Jonathan
Kalan
O pesquisador Haim Rabinowitch e seus colegas dedicaram os últimos anos
para tentar criar aparelhos "movidos a batata" - extraindo energia
elétrica do tubérculo.
A ideia parece absurda, mas o cientista da Universidade Hebraica de
Jerusalém em Israel, diz que, com placas de metal, fios e lâmpadas, é possível
gerar energia assim.
"Uma batata tem potência suficiente para iluminar um quarto com
lâmpada LED por 40 dias", diz o Rabinowitch.
Os princípios desta técnica já são ensinados há anos nos colégios e
conhecidos desde 1780, quando o italiano Luigi Galvani fez as primeiras
experiências do tipo. Mas a tecnologia desenvolvida em laboratório aumenta
muito a potência.
A bateria com material orgânico é criada com auxílio de dois metais: um
ânodo (um metal como zinco, com eletrodos negativos) e um cátodo (cobre, que
possui eletrodos positivos). O ácido dentro da batata forma uma reação química
com o zinco e o cobre que libera elétrons, que fluem de um material para o
outro. Nesse processo, a energia é liberada.
Em 2010, os cientistas da universidade de Jerusalém começaram a fazer
experiências com diversos tipos de batatas para descobrir como aumentar a
eficiência energética.
Eles descobriram que uma medida simples - cozinhar as batatas por oito
minutos - quebra os tecidos orgânicos e reduz a resistência, facilitando o
movimento dos elétrons e produzindo mais energia.
Outra mudança pequena - fatiar a batata em quatro ou cinco pedaços -
aumentou a eficiência energética em até dez vezes.
Esses testes conseguiram comprovar que pode ser economicamente viável
usar as batatas como fontes de energia.
"É energia de baixa voltagem, mas é suficiente para construir uma
bateria que poderia carregar telefones celulares ou laptops em lugares onde não
há rede de energia", diz Rabinowitch.
A análise de custos que eles fizeram sugere que uma batata cozida ligada
a placas de cobre e zinco pode gerar energia a um custo de US$ 9 por
quilowatt-hora. O custo da energia gerada por uma pilha alcalina AA de 1,5 volt
chega a ser 50 vezes maior. As lâmpadas de querosene - usadas em muitos
ambientes remotos para iluminação - costumam ser seis vezes mais caras.
Alimento ou fonte de energia
Por que, então, as batatas não são usadas em todo o mundo como fonte de
energia?
O mundo produziu, em 2010, 324 milhões de toneladas de batatas. O
alimento é plantado em 130 países. É barato, fácil de ser estocado e dura muito
tempo.
Com 1,2 bilhão de pessoas sem acesso a luz elétrica no mundo, a batata poderia
ser a resposta. Rabinowich sugere que a falta de divulgação sobre a potencial
da batata como fonte de energia elétrica é parte do problema.
Mas autoridades dizem que a questão é mais complexa.
Com tanta fome no mundo, o uso de alimentos como fonte de energia é
polêmico.
"A primeira pergunta a se fazer é: há batatas suficientes para
comermos", pergunta Olivier Dubois, autoridade em recursos naturais da
FAO, agência da ONU para agricultura e alimentos.
Há lugares em que isso seria impraticável. No Quênia, a batata só perde
para o milho como fonte de alimentação.
Em outros países, há pesquisas para explorar a criação de energia com
alimentos abundantes localmente. No Sri Lanka, pesquisadores estudam a forma de
otimizar o uso da energia elétrica com bananas. As mesmas técnicas - cozinhar e
fatiar - funcionaram.
Os custos de se desenvolver uma tecnologia desse tipo e distribuir entre
pessoas que necessitam de energia elétrica podem parecer economicamente
viáveis. Fabricar placas de zinco e cobre é mais barato do que uma lâmpada de
querosene. Mas ainda há outro tipo de resistência à técnica.
Gaurav Manchanda vende painéis solares no Quênia, que são colocados nos
telhados de casas. Ele diz que muitos dos seus clientes não procuram apenas seu
produto devido à eficiência energética ou preço.
"Eles precisam ver valor no produto, não só em termos de
desempenho, como também de status social", conta Manchanda. Uma bateria a
base de batatas não é algo que impressione muito a vizinhança.
Veja mais.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141020_vert_fut_batatas_energia_dg
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